sexta-feira, 13 de julho de 2012

Entrevista do cantor Mariano Tavares no Jornal Diário de Natal



Mariano Tavares e Brazuka Jazz , Show SEM PARAR em Assu
- Foto de Renato Melo



Muito
Edição de sexta-feira, 13 de julho de 2012 
Entrevista >> Mariano Tavares


"A música potiguar vive seu melhor momento"


O nome Mariano Tavares ainda soa estranho à potiguarada. Pudera, o cara lançou seu primeiro CD em 2005 (O SoBrado), sem tanta repercussão, apesar do estilo diferenciado das composições autorais. E amanhã é a vez do segundo, intitulado Sem Parar. É que o músico e compositor permanece na "estrada" tortuosa da música desde então, sem intervalos. E com determinação, poesia e forte influência do country norte-americano para mostrar. O show de lançamento do novo trabalho será na Casa da Ribeira, às 20h. No álbum há uma ideia central: a correlação de todas as canções com a ideia de tempo: o tempo infinito do amor, da morte, da natureza e do sonho. Por isso o título Sem Parar, aludindo a um movimento de progressão e retorno, como um ciclo eterno.



Foto: Renato Melo Medeiros/Divulgação
Quais as semelhanças entre os dois discos?


Tudo parte sempre da tentativa de conseguir produzir um discurso musical e poético próprio, uma música que possa ser identificada como minha. Nesse aspecto os dois discos são muito parecidos. O tipo de controle quase obsessivo que eu tento manter sobre a sonoridade e os arranjos, também. Costumo dizer que SoBrado é um disco de "aprendiz", com as pretensões e ingenuidades típicas de um primeiro trabalho. Sem Parar, por outro lado, é um disco mais livre, mais orgânico e mais consciente. Parece-me que um é a continuação e evolução do outro, e eu me orgulho muito dos dois.


Quais as descobertas musicais e poéticas neste intervalo de sete anos entre os dois trabalhos?


Mesmo quando longe do palco e do estúdio, minha convivência com a música, minha relação com a canção, se dá num movimento sempre contínuo, sem parar. Creio que descobri algo nesse intevalo de sete anos entre um disco e outro: que a canção que persigo, a voz poéticaque busco, deve ser cada vez mais simples e essencial, tanto em estrutura quanto em expressão.


Para compor suas influências são mais poéticas ou musicais?


Influências estão sempre relacionadas a uma questão de observação, assimilação e utilização não apenas de outros discursos musicais e poéticos, mas da própria vida e da experiência humana. Dentro dessa perspectiva, penso que influências podem vir de qualquer lugar. Mas na hora de compor tudo parte mesmo da música, que é o que meu discurso e minha presença artística, e está no centro de tudo. Entre outras referências que vão da literatura ao cinema, eu diria que meu trabalho se fundamenta principalmente na canção tradicional brasileira, na música regional e no rock, diluídos nessa tentativa de encontrar o próprio som, a própria voz.


Como se dá a construção de suas composições?


Não há uma regra. Minhas canções nascem de modos muito distintos. Em sua maioria a letra surge primeiro e só depois vem a música. Às vezes uma canção pode surgir inteira, de um único sopro, como se já estivesse pronta e surgisse do nada, e outras vezes pode demorar meses, até anos, para ficar pronta. Em muitos casos elas surgem da necessidade de dizer ou refletir sobre algo, em outros da simples observação da vida, da intuição, ou do próprio acaso, que se transferem para o corpo e se transformam em pulsão criadora. Eu geralmente componho sozinho e não tenho tantas parcerias quanto gostaria. As que fiz até agora foram sempre partir do texto escrito. É um processo estimulante e inteiramente novo pra mim. Já temos três canções prontas e talvez isso resulte em um trabalho em dupla, algum dia.


O álbum é conceitual?


Tanto O SoBrado quanto Sem Parar não são trabalhos conceituais, no sentido de que não houve um "acordo" estético prévio que conduzisse a elaboração das canções, dos arranjos e do show. Nos dois casos os álbuns nasceram mais ou menos do mesmo modo: da percepção clara de que eu tinha em mãos um bom grupo de canções que de certo modo dialogavam entre si, e que formavam um tipo de"retrato" de uma época da minha vida, de minhas crenças, experiências, e principalmente do modo como eu penso a música e a canção. É claro que durante o processo de elaboração do álbum você acaba construindo muito mais significados e fazendo ligações que no final resultam num conceito. Talvez o meu terceiro disco venha ser um disco de fato conceitual, uma vez que estou pensando em compor todas as canções sobre um mesmo tema, e planejando as ações, o formato e a sonoridade do disco antes mesmo de começar a escrever as canções. Mas por enquanto, são apenas planos.


Quais as suas expectativas de carreira?


Acho que a música potiguar vive seu melhor momento. Nunca se produziu tantos trabalhos, ao mesmo tempo, com tanta qualidade técnica e estética. É grande o número de bandas e artistas novos compondo, gravando e apresentando bons discos e shows, e me alegra estar produzindo, ser parte desse momento. Entretanto, há diversas contradições nessa cena, como o fato de que esse crescimento e amadurecimento ainda não foram capazes de formar um mercado local forte e autossustentável, que dê visibilidade nacional aos artistas locais, pondo em destaque as coisas que acontecem aqui. Temos assistido alguns artistas ultrapassarem as fronteiras do estado, mas com resultados ainda tímidos. Desde março, quando foi lançado, Sem Parar tem sido bem recebido e criticado, dentro e fora do RN, mas isso não garante que as coisas fiquem mais fáceis. Descobri que a minha relação com música não é mais uma questão de escolha, mas um chamado, de modo que vou continuar fazendo isso em quaisquer condições.


E a cena mossoroense?


Voltei a morar em Mossoró em setembro e as coisas parecem não ter mudado nada, ou muito pouco. Vejo a cena local ainda meio cega, sem rumo, presa à sonoridade da famigerada "música de barzinho", ou das chamadas bandas de pop-rock. É um jogo de causa e efeito: não se produz música autoral e, por conseguinte, não se tem um público acostumado e interessado em consumir material inédito. Mas há uma cena de rock bem interessante aqui, muito tímida ainda. 

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